Bebês gordinhos também precisam de dieta alimentar
No Brasil, quase 10% das crianças menores de 5 anos estão acima do peso. Seu bebê pode fazer parte desse número sem você perceber. Aprenda a identificar o problema e reverter esse quadro
Por Bruna Menegueço
LatinStock
Nossa, mas que bebê fofo! Olha só, que delícia de perna rechonchuda! É assim que, ainda hoje, as pessoas veem (e elogiam) uma criança acima do peso. É difícil perceber e aceitar a obesidade de um filho, principalmente de um bebê com menos de 2 anos. Aos olhos dos pais e parentes, as dobras são sinal de saúde – e um motivo a menos para se preocupar. Muitos nem percebem que o filho está com quilos a mais e comemoram cada garfada. Um estudo feito nos Estados Unidos com mães de bebês com sobrepeso mostrou que 79% delas não notavam nada de errado na silhueta dos seus filhos. Outra pesquisa americana com famílias de crianças obesas revelou que 35% dos pais nem sequer imaginavam que elas pudessem estar acima do peso. Aqui no Brasil, segundo dados do Ministério da Saúde, nos últimos cinco anos, o percentual de crianças menores de 5 anos com sobrepeso passou de 6,4% para 9,2%. Desse total, 6,6% já caracterizavam obesidade grave e a família não havia percebido. Por isso que, na maioria dos casos, os pais custam a procurar ajuda médica.
As primeiras preocupações sobre o peso dos filhos costuma acontecer quando eles têm cerca de 4 anos, mas o problema de sobrepeso pode aparecer no quarto mês de vida. Parece cedo, mas não é, e o diagnóstico precoce tem explicação. A Organização Mundial de Saúde (OMS) recomenda o aleitamento materno exclusivo até os 6 meses, mas, no Brasil, a licença-maternidade dura apenas quatro meses. A partir daí – e muitas vezes até antes desse período, mostram algumas pesquisas –, os bebês passam a receber alimentos complementares, enquanto o leite materno é dado poucas vezes ao dia até os 2 anos de idade, quando possível. “Quando a alimentação muda, aumenta o risco de errar na dose. Com medo de não fornecer os nutrientes que a criança precisa para se desenvolver com saúde, os pais sentem-se culpados pela ausência e vão além. Erram na quantidade e na qualidade dos alimentos”, diz a pediatra Roseli Sarni, presidente do Departamento Científico de Nutrologia da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP).
Segundo a orientação do Departamento de Nutrologia da SBP, dos 6 aos 11 meses, o bebê amamentado no peito deve receber três refeições com alimentos complementares ao dia (duas papinhas salgadas e uma de fruta ou suco) e aquele não amamentado, cinco refeições (duas papinhas de sal, uma de fruta ou suco e três mamadeiras de leite). Nada de acrescentar açúcar ou leite nas papas para melhorar a aceitação nem oferecer alimentos industrializados pré-prontos, mel, água de coco, refrigerantes, café, chás, embutidos, etc. O leite também não precisa ser adoçado. Essa faixa de idade é muito importante para o desenvolvimento da criança e dos bons hábitos alimentares. Mas não é bem isso que acontece. Segundo uma pesquisa feita pelo Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional do Ministério da Saúde com mais de 8 mil crianças com menos de 2 anos, mais de 42% já haviam consumido bebidas ou preparações com açúcar antes dos primeiros 6 meses de vida e 44% das crianças entre 6 meses e 2 anos consumiram sucos industrializados, refrescos em pó ou refrigerantes.
A culpa é quase toda dos pais
Quando se fala sobre obesidade em bebês, a razão para o descontrole recai – em 80% dos casos – sobre os hábitos dos pais. Se os pais não comem frutas, verduras e legumes, e não seguem uma rotina saudável, não saberão cuidar e ensinar a criança a ter uma alimentação adequada. “Aqui, é a velha história de dar o bom exemplo. Isso começa ainda durante a amamentação quando a mãe tem o controle sobre o que o filho está recebendo e pode garantir apenas alimentos saudáveis”, diz a pediatra Solange Rocha, especialista em nutrição.
Se você está preocupada com as dobrinhas a mais de seu bebê, o melhor a ser feito é conversar com o pediatra – ele conhece o histórico da criança e de toda a família. O diagnóstico de obesidade deve ser feito com muita cautela porque depende de uma boa interpretação do especialista. Ele não deve observar apenas o excesso de peso da criança, mas também seus hábitos alimentares e estilo de vida. Se um bebê apresenta índice de massa corpórea (IMC) acima da média, mas recebe aleitamento materno e alimentação complementar adequada, não deve ser considerado como obeso. Por outro lado, se o bebê apresenta IMC acima da média, e recebe leite engrossado com açúcar ou achocolatado e belisca o dia todo, é um caso de obesidade. “No entanto, esses detalhes só os especialistas são capazes de perceber. Para os pais, é difícil admitir que a alimentação que o filho recebe é inadequada e que, por isso, está acima do peso”, diz Roseli.
“Para os pais, é difícil admitir que a alimentação que o filho
recebe é inadequada.” Roseli Sarni, do Departamento de
Nutrologia da Sociedade Brasileira de Pediatria
Quando o diagnóstico é positivo, o apoio dos pais é fundamental durante todo tratamento. É impossível que a criança comece a comer melhor e deixe de ser sedentária se toda a família também não mudar seus hábitos. Ela não vai se sentir motivada a tomar suco no almoço, se todo mundo à mesa estiver tomando refrigerante, por exemplo. E uma criança que tenha até 2 anos não pode escolher sozinha o que vai comer. É você quem vai orientá-la e fazê-la experimentar pratos mais saudáveis.
O mesmo vale para a prática de atividades físicas, que deve começar o mais cedo possível. O seu incentivo é que faz a diferença. Brinque com seu bebê e o ajude a rolar, engatinhar e andar. Esses momentos, além de serem saudáveis, promovem uma interação ainda maior entre vocês.
E não custa nada lembrar: se a obesidade não for tratada, pode causar várias doenças, como hipertensão, colesterol alto, diabete tipo 2, asma e problemas no coração, entre outras. Melhor pensar duas vezes antes de apertar, cheia de orgulho, as dobras do seu bebê, não é mesmo?
FONTE: revistacrescer.globo.com
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